Bezerra
de Menezes acabava de presidir a uma das sessões públicas da Casa de Ismael, na
Avenida Passos.
Era uma
noite de terça-feira do mês de Junho de 1896.
Sua
palavra esclarecida e carinhosa, à moda de uma chuva fina e criadeira, no dizer
de M. Quintão, penetrava às almas de quantos, encarnados e desencarnados, lhe
ouviam a evangélica dissertação sobre uma Lição do Livro da Vida!
Os olhos
estavam marejados de lágrimas, tanto de ouvintes como os do próprio Orador.
Acabada a
Sessão, descera Bezerra com passos lentos, ainda emocionado, as escadas da
Federação Espírita Brasileira.
E ia,
humildemente, indagando dos mais íntimos, se ferira alguém com sua palavra, que
lhe perdoassem o descuido, e ia descendo e afagando a todos que o esperavam
ávidos dos seus conselhos, dos seus sorrisos, do seu olhar manso e bom.
No
sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em desalinho,
com a roupa suja e amarrotada.
Os dois
se olharam. Bezerra compreendeu logo que ali estava um Caso, todo particular,
para ele resolver.
Oh!
Benditos os que têm olhos no coração!
E Bezerra
os tinha e os tem!
E levou o
desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido:
- Dr.
Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos... E
eu mesmo, como vê, estou sem alimento e febril!
Bezerra,
apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos.
Apenas a passagem do bonde...
Tornou-se
mais apiedado e apreensivo.
Levantou
os olhos já molhados de pranto para o alto e, numa Prece muda, pediu Inspiração
a Maria Santíssima, seu Anjo Tutelar e solucionador de seus problemas. Depois,
virando-se para o Irmão:
- Meu
filho, você tem fé em Nossa Senhora? A Mãe do Divino Mestre, a nossa Mãe
Querida?
- Tenho e
muita Dr. Bezerra!
- Pois,
então, em Seu Santíssimo Nome, receba este abraço.
E abraçou
o desesperado Irmão, envolvente e demoradamente.
E,
despedindo-se:
-Vá, meu
filho, na Paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade. E, em seu lar,
faça o mesmo com todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie
Nela, no Amor da Rainha do Céu, que seu Caso há de ser resolvido.
Bezerra
partira.
A caminho
do lar, meditava: teria cumprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao
irmão em prova, faminto e doente?
E
arrependia-se por não lhe haver dado senão um abraço.
Não possuía
nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não estava nos seus dedos. Tudo
havia dado. Não tendo dinheiro, dera algo de si mesmo, vibrações, bom ânimo,
moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe bastara...
E, neste
estado de espírito, preocupado pela sorte de um seu semelhante, chegou ao lar.
Uma
semana passara-se. Bezerra não se recordava mais do sucedido.
Muitos
eram os problemas alheios.
Após a
sessão de outra terça-feira, descia as escadas da Federação.
Alguém,
no mesmo lugar da escada, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento,
toca-lhe o braço e lhe diz:
-Venho
agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso que me deu na semana passada,
neste local e nesta mesma hora. Daqui saí logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei
minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos todos à Mãe do Céu.
Na água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento.
Pois
dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos sem febre e como que
alimentados... E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta, que se abriu e
alguém por ela saiu, ouviu meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego,
no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me
deu, arrancada de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro!
O
ambiente era tocante!
Lágrimas
caíam tanto dos olhos de Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido.
E uma
Prece muda, de dois corações unidos, numa mesma força gratulatória, subiu aos
Céus, louvando Aquela que é, em verdade, a Porta de nossas Esperanças, a Mãe
Sublime de todas as Mães, a Advogada querida de todas as Nossas Causas!
Adolfo
Bezerra de Menezes, nascido em 29/Ago/1831, em Riacho Grande, Ceará.
Aos 49
anos, em 1880, foi presidente da Câmara Municipal e líder do seu partido. Sempre foi muito criticado,
pois como era honesto, irritava os desonestos, que para atingi-lo, chamavam-no
de ladrão.
Recebe a
alcunha de "Médico dos Pobres". Foi-lhe dado mais por troça, mas ele o aceitou
com orgulho, disse depois que foi o mais honroso título que já recebera.
Aos 53
anos, em 1884 funda-se a Federação Espírita Brasileira, onde foi criado por ele o
processo de explicação popular do Livro dos Espíritos.
Aos 63
anos, em 1895 Bezerra é chamado à presidência da FEB.
Desencarnou
em 11 de Abril de 1900 com 69 anos, pobre, provando a todos sua honestidade, um grupo
de amigos se cotizou para juntar o dinheiro do seu enterro e manter a família.
No Plano
Espiritual, em 1950, Maria
de Nazaré chamou-o para zonas superiores, mas ele preferiu ficar aqui, junto de
seus pobres e doentes.
Sua vida é
um exemplo de probidade, de amor ao próximo, em que ele ganhou 50 encarnações
em apenas uma, não precisamos fazer tanto, mas podemos ganhar uma ou duas
apenas tentando um pouco
Autoria desconhecida
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